sexta-feira, 17 de outubro de 2014

O que é TPB?

A VIDA À BEIRA DO ABISMO

Matéria da Revista VEJA de 1° de Julho de 2009


É assim que se sentem os pacientes com distúrbio fronteiriço da personalidade. Acossados por uma sensação de desamparo que lhes parece inextinguível, eles têm de lutar bravamente para adentrar os limites da nova normalidade.

Ana, de 26 anos, é uma jovem de feições delicadas. A pele alva contrasta com os cabelos escuros, lisos e curtos. Ela é do tipo que sempre busca as palavras exatas para expressar suas opiniões e sentimentos. Domina quatro idiomas e estuda numa das melhores universidades do país. Bonita e inteligente, Ana seguiria um caminho sem relevos ríspidos, não fosse o abismo. Ele se abre à sua frente na forma de um vazio que a tudo engole, da sensação de abandono e do medo de perder os próprios contornos, aparentemente tão delineados. Ana sofre, e sua dor lhe parece inextinguível. Num ato de coragem, a jovem concordou em dar os depoimentos que constam desta reportagem:

- Já perdi a conta de quantas vezes tentei me matar. A situação mais séria data de quatro anos atrás. Minha mãe me encontrou desmaiada no chão do quarto, depois que tentei me enforcar. Aos 14 anos, me joguei na frente de um caminhão. Fui salva por um estranho que me puxou de volta para a calçada. Já cortei várias vezes os pulsos e, em outras, consumi quantidades exageradas de remédios. Para mim, a vida é uma obrigação.

Aos 20 anos, Ana foi diagnosticada com distúrbio fronteiriço da personalidade - é considerada uma borderline, para usar a terminologia em língua inglesa. Seus portadores têm imensa dificuldade em se incluir até mesmo nos amplos limites da nova normalidade. O Manual de Diagnóstico e Estatística de distúrbios mentais, o guia das doenças psiquiátricas da Associação Americana de Psiquiatria, caracteriza a doença com uma lista de nove sintomas: sensação constante de vazio; acessos injustificáveis de raiva; alternância constante e extrema de humor; relações interpessoais intensas e instáveis; comportamento impulsivo; idéias frequentes de suicídio ou automutilação intencional; episódios de paranóia; autoimagem instável; e esforços desmedidos para evitar um abandono verdadeiro ou imaginado. Nada, porém, define mais integralmente os fronteiriços do que a metáfora usada pela psicóloga americana Marsha Linehan, professora da Universidade de Washington e referência mundial no estudo da doença: "Eles são o equivalente psicológico dos pacientes vítimas de queimaduras de terceiro grau. Não tem nenhuma 'pele emocional' para protegê-los. O mais leve toque ou movimento pode causar-lhes muita angústia". È como se vivessem o tempo todo "imersos em tempestades emocionais que nunca se acalmam", escreve o psiquiatra e psicanalista israelense Yoram Yovell, no livro O inimigo no Meu Quarto - e outras Histórias da Psicanálise (editora Record).

O termo borderline para designar o paciente que sofre desse transtorno psiquiátrico foi usado pela primeira vez no fim da década de 30, pelo médico e psicanalista americano Adolph Stern (1878-1958). Acreditava-se, na ocasião, que seus portadores estavam na "fronteira" entre neurose e psicose. A definição do problema como um distúrbio de personalidade caracterizado por extrema instabilidade emocional e impulsividade foi consolidada entre as décadas de 60 e 70, por Otto Kernberg, psicanalista austríaco, e John Gunderson, psiquiatra americano. As estatísticas sobre a incidência dos fronteiriços na população variam de 2% a 6%. A levar em conta a poporção máxima, eles formariam um contigente semelhante aos dos que sofrem de transtornos da ansiedade, que ficam em terceiro lugar na lista dos distúrbios mentais mais comuns.

Com o aperfeiçoamento dos exames de imagens, foi possível verifcar que os fronteiriços apresentam deficiências no funcionamento de uma área do cérebro conhecida como lobo frontal. Localizada bem acima dos olhos, ela é responsável, entre outras funções, pela elaboração do pensamento e pelo planejamento das ações. Alterações nessa porção cerebral podem comprometer o juízo crítico e contribuir para o descontrole emocional. Mas, como nem todos os que exibem tais falhas no lobo frontal são fronteiriços , a conclusão é que as influências familiares e sociais são determinantes. Isso não significa que cada borderline tenha sido agredido ou negligenciado na infância. A combinação de uma criança detalhista com uma família perfeccionista, por exemplo, pode contribuir para a formação de um adulto que não consegue se sentir satisfeito com suas realizações , não conclui projetos e, assim, desenvolve uma sensação crônica de vazio - aspectos central do transtorno.

A sensação de abandono é comum a todos os fronteiriços. É como se reproduzissem continuamente o sentimento da criança pequena que teme a mais breve ausência dos pais - fonte de nutrição, afeto e amparo - como uma perda eterna. "Em certo sentido, a criança cresce e aprende a ser indépendente quando consegue procurar a imagem dos pais dentro de si, e não à sua volta", diz Yovell , em O Inimigo no Meu Quarto. A partir do momento em que ela não consegue realizar essa interiorização, está dado o primeiro passo para a formação de um adulto doentimente carente. Às vezes, no entanto, o sentimento de rejeição é fruto de um abandono real.

No desespero para não se sentir desamparado, o fronteiriço costuma "grudar" em seus amigos, médicos, cônjuges ou parentes - sufocando-os e, consequentemente, afastando-os. Como o fronteiriço só consegue se definir a partir do outro, ele muda constantemente de área de estudo, religião e estilo de vida, ao sabor das influências dos amigos ou familiares. "Assumir a identidade de pessoas próximas é uma tentativa de evitar a rejeição e o abandono que eles tanto receiam", explica o psiquiatra e psicoterapeuta Erlei Sassi, coordenador do Ambulatório Integrado de Transtornos de Personalidade e do Impulso do Hospital das Clínicas de São Paulo. Esse comportamento típico doborderline é semelhante ao do adolescente. Diz a psicóloga Jonia Lacerda, do Ambulatório de Família do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo: "È como se eles vivessem uma adolescência vinte anos mais longa do que as pessoas sem o transtorno". Vinte anos não é força de expressão. Por motivos ainda insondáveis, a partir dos 41 anos, boa parte dos pacientes tem atenuado não só esse como os demais sintomas que definem a sua condição. O problema, claro, é chegar até lá razoavelmente inteiro. Tamanha insegurança impede a construção de uma autoimagem de fato positiva. Diz Ana:

- Só consigo enxergar os meus defeitos. O reconhecimento das coisas que faço e tenho de bom (se é que há algo de bom em mim) tem de partir necessariamente dos outros. Enão pode ser qualquer um. Na faculdade, por exemplo, o aval de um professor só tem valor se ele estiver entre os mais conceituados. Se eu parar pra pensar, sei que isso é um absurdo, que impede que minha vida flua. Mas eu simplesmente não consigo evitar. Esse tipo de pensamento toma conta de mim e vai crescendo, crescendo...È um círculo vicioso infernal.

Para cumprir a obrigação de viver, é comum que o fronteiriço lance mão de aditivos. De acordo com um levantamento feito em 2008 pelo Instituto Nacional de Abuso do Alcool e Alcoolismo, dos Estados Unidos, 42% dos fronteiriços são dependentes de álcool e 30% abusam das drogas. Muitos não conseguem levar os estudos superiores até o fim. Boa parte não se casa ou é divorciada.

Devido ao fato de ser um transtorno de personalidade, ele pode ser confundido, no início, com um temperamento mais impulsivo. Por esse motivo, um paciente leva, em média, de cinco a dez anos para ser diagnosticado como fronteiriço. "Em geral, os doentes chegam ao consultório por causa de problemas decorrentes do transtorno - como abuso de álcool e drogas, depressão, automutilação ou bulimia", diz Geraldo Possendoro, psiquiatra e psicoterapeuta, professor da Universidade Federal de São Paulo. O diagnóstico só costuma ser fechado a partir dos 18 anos, quando a personalidade da pessoa já está razoavelmente definida. "Só assim os médicos conseguem ter certeza de que o comportamento errático não está cincunscrito à adolescência, com todas as suas turbulências emocionais e comportamentais", diz Fernanda Martins, psiquiatra e psicoterapeuta do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Ao contrário do que ocorria num passado não muito distante, hoje a doença tem tratamento. A questão é que os fronteiriços resistem muito aos mediamentos e ás terapias. Com a palavra, Ana:

- Eu só aceitei me internar e me tratar de fato depois que tentei me enforcar. Quando o médico me disse, de maneira bastante firme, que, no fundo, a tentativa de enforcamento era um pedido de ajuda, eu cedi. No fundo, o que me move é a esperança. E é essa esperança que me faz querer ficar bem, seguir na terapia e tomar a medicação. São oito comprimidos por dia - um de antipsicótico, três de estabilizador de humor e quatro de antidepressivo. Eu estou melhorando. Aos poucos, mas estou.

A relação que os fronteiriços estabelecem com seus médicos e psicoterapeutas é bastante peculiar. Eles agem o tempo todo cmo se estivessem testando a dedicação e a fidelidade de quem os trata. Durante a sua gravidez , a médica Fernanda, por exemplo, teve de ser cuidadosa para evitar que suas pacientes se sentissem preteridas. "Eu costumo dizer que o fronteiriço requer um profissional muito persistente", diz o psiquiatra e psicoterapeuta Sassi. E com um sangue frio de congelar nas veias. Certa vez, no meio da noite, ele atendeu o telefonema de uma paciente. Com voz tranquila, quase infantil, ela perguntou: "Doutor, a veia jugular fica do lado direito ou esquerdo do pescoço?". Os sinais de melhora às vezes são tão sutis que podem escapar ao profissional menos experiente. "Fico extremamente satisfeito quando um paciente me telefona pra dizer que está triste, em vez de chegar ao consultório com o braço marcado por cortes", afirma Sassi. "Ao me falar de sua tristeza, ele mostra que finalmente aprendeu a expressar seus sentimentos de maneira saudável." E, quem sabe, possa enveredar pelo caminho da nova normalidade, em que não cabe a ilusão da ausência completa de tormentos.


Tempestades Emocionais

§ vivem com uma constante sensação de vazio

§ Estabelecem relações interpessoais intensas e instáveis, marcadas, sobretudo, pela dependência em relação aos pais, amigos e médicos

§ Têm um medo incontrolável de ser abandonados

§ São impulsivos em demasia

§ Alternam constantemente o humor - e, na maioria das vezes isso ocorre sem nenhuma justificativa

§ São acometidos por acessos desmedidos de raiva e ódio. Uma leve frustração pode fazer com que eles partam até para agressão física.

§ Apresentam um comportamento autodestrutivo, marcado pela automutilação e pela ideia constante de suicídio

§ Têm episódios de desconfiança que beiram a paranóia

§ Têm uma autoimagem instável - veem-se como pessoas ora totalmente ruins, ora completamente boas


Todos por um

Um ano depois do início do acompanhamento médico e psicológico, a maioria dos doentes consegue controlar a instabilidade emocional e a impulsividade. O engajamento da família no processo é imprescindível.

Remédios - Os estabilizadores de humor, antidepressivos e antipsicóticos costumam ser usados concomitantemente. Eles amenizam a irritabilidade e o comportamento impulsivo. Também abrandam a depressão e a ansiedade e reduzem eventuais delírios persecutórios. Além de atenuar os sintomas da doença, a medicação é essencial para diminuir os riscos de suicídio e automutilação.

Psicoterapia - São duas as abordagens mais comuns. Na terapia cognitivo-comportamental, o paciente aprende a identificar e corrigir pensamentos e comportamentos que lhe são prejudiciais. Com recursos da psicanálise, a terapia psicodinâmica tenta fazer com que o fronteiriço reconheça e resolva conflitos antigos e, assim, se veja como indivíduo autônomo, no controle de suas emoções.

Terapia familiar - Em geral, a família trata o doente de forma infantilizada ou agressiva, o que reforça seu comportamento fronteiriço. Os pais costumam sentir-se culpados e impotentes. Cabe ao terapeuta desfazer a idéia de que eles são inteiramente responsáveis pela doença do filho e trabalhar para transformar as relações familiares.

perdas e danos

A partir dos 40 anos, boa parte dos fronteiriços costuma apresentar melhora. As tentativas de suicídio tornam-se mais raras e as relações pessoais ficam menos conturbadas. Até lá, no entanto, sem tratamento, os doentes acumulam muitos prejuízos, alguns deles indeléveis

75% se automutilam frequentemente

42% se tornam dependentes de álcool

30% abusam das drogas

10% cometem suicídio


A maioria não consegue levar os estudos até o fim

Boa parte não se casa ou é divorciada

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Relato de um marido de Bipolar

PALAVRAS DE UM MARIDO DE BIPOLAR

                  Estávamos juntos já há 8 anos, com um filho, fazendo poucos dias para o aniversário de um ano de casamento na igreja e com mais um filho de 9 dias de nascido, quando uma pessoa muito querida nossa faleceu.
                Minha esposa não sabia mais como comprar roupas, comida pois essa pessoa era como uma mãe para ela. Comprava tudo para nós. Fazia de tudo para não nos preocuparmos com nada.
                  Até então a bipolaridade não existia, pelo menos na teoria.
                 Quando esse fato aconteceu, da  perda, é  que primeiro começaram a surgir os medos, medo de  tudo. De sair, de querer ir no Hospital, de achar que ia morrer. 

(nota) : Normalmente a primeira grande crise notória de Bipolaridade, vem depois de um grande choque, ou decepção, ou ainda um acidente, coisas desse tipo.

                 Até então dava pra levar as coisas, conversar, pedir calma, paciência etc.
                 Pois bem. Começaram então as formas agressivas, primeiro com palavras e acusações, depois, com agressões físicas, ainda não tão violentas, até que um dia, com tanta raiva, ela sentiu que a agressão seria violenta contra mim e ela pediu que eu internasse numa clínica psiquiátrica. 
                Claro, na primeira vez eu neguei, tentei conversar e as coisas acalmaram, na segunda vez, eu ví que seria sério demais, pois a agressão (tentativa), seria com um ferro de passar roupas.
             Nesse dia, fomos no Phillipe Pinel, aqui no Rio de Janeiro, e graças a uma médica sensata, começou a fazer perguntas sobre a juventude, adolescência, infância, sobre a família. Opa! Família!!! 
               Quando a médica tocou no assunto de uma pessoa do sangue dela, ela disse imediatamente que a avó materna sofria de Esquizofrenia há muitos anos e se tratava. 
              Imediatamente a médica disse que possivelmente ela tinha características de uma pessoa bipolar.
             Claro, começamos a pesquisar na internet e descobrimos um  médico que era um expert no assunto, legal, e ainda atendia pelo nosso plano de saúde???? É esse mesmo.
                Chegamos lá, ele entregou uma ficha, com um monte de perguntas, passou uns “remedinhos” e achamos que com isso estava resolvido o problema. Doce ilusão!!!
               Só que esses “remedinhos”, deixavam ela em total estado de letargia, dormindo o dia inteiro, ou seja, uma total ausência de mãe para duas crianças, de esposa, de amiga, de companheira. LÓGICO, em momento algum por culpa dela, mas sim da doença, e claro, dos remedinhos.
                 Fomos algumas vezes lá, até que ela achou que estava curada, que não tinha necessidade de tomar mais remédio algum e resolveu largar todos de uma só vez.
            Lógico que o resultado esperado foi dos piores, primeiro por que JAMAIS se devem largar remédios desse tipo (tarja preta) de uma vez, e sim gradativamente, conforme orientação médica.
                 No começo, realmente parecia que ela estava curada.
                 Queria brincar, sair, beber... Euforia, a toda prova!! 
           Depois, lógico, retornam os medos, depressões, aí diz que quer se separar pois eu era o verdadeiro culpado de tudo, começa a ser agressiva com as crianças (lógico, por causa da doença!!!!). Graças a Deus, não teve nenhuma agressão física, somente verbal.
                E ainda bem (sem modéstias), tinha um pai e marido que explicava pro filho, que o problema dela era uma doença, que JAMAIS ela em sã consciência, faria aquilo com ele. E ele entendia, tanto que hoje, ele brinca com isso. Leva totalmente na esportiva, e principalmente AMA a mãe que tem.
                  Tentei conversar várias vezes, até que um dia consegui convencer a ir em outro médico. 
              Novamente recorremos ao Plano de  Saúde  e  achamos  um quase santo, que na primeira consulta, em vez de explicar a ela o que ela tinha, me explicou como EU tinha que proceder com ela. Tirou todos os remédios anteriores, que ela já não tomava mais, e manteve apenas um (Lítio), e compensou com outros. Só isso, de ele “perder tempo” explicando pra mim, um mero espectador, já foi maravilhoso, pois comecei a entender que nas horas de crise, JAMAIS tente enfrentar um bipolar, pois pode se tornar catastrófica a situação.
                Palavras como “Calma!”, “você tá louca!”, virar as costas depois de falar alguma coisa desse tipo, jamais devem acontecer. É mais ou menos “bater palma pra maluco”. Quer dizer, mais ou menos não. É na verdade, totalmente isso. Na hora, é concordar com tudo, até o “surto” acabar.
                   Legal, começamos a nos entender melhor a partir daí. 
                 O grande problema era quando ficava realmente doente e tinha que falar em um Hospital os remédios que tomava. Era a pior coisa do mundo, pois os médicos, já entendendo que era bipolar, simplesmente achavam que era coisa da cabeça dela.
                 Teve  um episódio que um médico chegou a dizer a ela que não daria remédio para dor pois ela era VICIADA em morfina. Até que o médico dela disse que não teria problema em omitir os remédios que ela tomava. Bom, não é que deu certo? 
                Chegamos nesse mesmo Hospital, só que  quem estava de plantão era outro médico, e ela deixou de informar os remédios para bipolaridade e síndrome do pânico que ela tomava. Acho que ele esqueceu de verificar o histórico anterior, ou apostou em acreditar na paciente, o que na minha opinião deveria ser obrigação de qualquer médico.
                   O resultado foi o seguinte, depois de quase trinta dolorosos dias, CÁLCULO NA VESÍCULA!!!!! Em menos de dois dias, já estava sendo operada.
               Depois  disso, LÓGICO, procuramos  o  médico  e  mostramos  o laudo do “vício” dela em  morfina. Claro que ele pediu mil desculpas. Hoje em dia se chegamos lá ele atende, sem pensar nos remédios dela, só nos sintomas.
                  Em uma outra ocasião, estávamos com ela no Hospital, com infecção urinária, deram um anti-inflamatório, e por causa do Lítio, começou uma dor de cabeça insuportável nela, que segundo dizia, era pior do que uma enxaqueca. Só não conseguimos falar com o psiquiatra dela, pois era CARNAVAL e essa pessoa estava em um lugar que o celular não pegava, ou seja, ficamos até a quarta de cinzas, aguardando ele chegar pra poder saber o que fazer, e nessa, todos os dias batendo no Hospital para reduzir as dores. 
                Descobrimos,  que  quando  se  toma  Lítio,  e  usa  um  anti-inflamatório, se não reduzir a quantidade de Lítio, ele não é eliminado, causando quase que uma hiperlitimia (excesso de lítio no organismo) e que suas primeiras reações são de fortes dores de cabeça.
                Com isso, achamos prudente mudar de médico, pois não sei se por descuido, esquecimento, euforia do Carnaval, ele tinha a obrigação de informar o número de algum colega, ou alguma emergência para se não conseguisse falar com ele.
               Por questões éticas não vou citar nomes de nenhum profissional ou Hospital, pois acredito muito que falhas acontecem.
              Mudamos de psiquiatra e achamos um anjo.  Essa médica, além de profissional, e por ter pessoas na família que trabalham na mesma área, além de explicar tudo, responde a todas as nossas questões, nos mínimos detalhes. E sem falar que, se mandarmos mensagem por celular, ela responde o mais breve possível.
                Com  isso  que  aconteceu  com  a  minha esposa, foi descoberto que a Esquizofrenia dessa parente dela, era na verdade bipolaridade, e passou a viver bem melhor com os remédios certos até os últimos dias de vida.
                 Claro  que  nesse  meio tempo, perdemos alguns amigos que deixaram ela bem abalada, pois um deles também era bipolar, mas essa, acreditamos que foi uma outra situação. Bom, mas essa temos que deixar pra lá por falta de provas. 
              Depois, vendo algumas situações, começamos a descobrir e encaixar fatos da vida, que nos levam a pessoas do meu convívio.
                Existem situações que achamos que a pessoa é alcóolatra, quer ter várias mulheres, que acha que vai ter sucesso em tudo, que acha que vai ficar “rico” da noite pro dia. Nesses casos,  muitas acabam cometendo suicídio, ou se afundam na vida, perdem família, amigos, parentes por causa de uma doença não diagnosticada.
              O bipolar, tem exatamente algumas dessas características, pois não existem limites entre os extremos. Nem na euforia e nem na depressão.
              Da mesma forma que ele se sente um semi Deus, ele logo depois se sente a pior pessoa do mundo.
              Claro  que  existem  casos  de bipolares, que não são detectados, pois são compulsivos,  por bebida, por drogas, por comida, por sexo, por compras, então em alguns casos, se passam como alcóolatras, drogados, maníacos sexuais, compulsivos por comprar coisas, acumuladores e nesse último caso por exemplo, não se torna tão nocivo para a saúde, somente para a parte financeira, mas se tiver condições financeiras suficientes, ninguém percebe.
               Existem esses casos mais  brandos. Hoje,  suspeita-se  que  80% da população tenha algum sintoma da bipolaridade, porém muitos casos são quase imperceptíveis.
              A  bipolaridade, hoje  em  dia  é  controlável, porém SEMPRE, tem que ficar observando as atitudes, os mínimos sinais para que sejam ajustadas as dosagens.
              É como uma diabete, um problema de tireóide, ou até mesmo para quem tenha problema de pressão alta. É controlar a vida inteira, tomar remédios todos os dias e regular as dosagens. 
                E claro, a terapia com um PROFISSIONAL DA  PSICOLOGIA. ISSO É IMPORTANTÍSSIMO!!!!
              A minha opinião é que vá em várias psicólogas, várias vezes, e se identificar com o estilo dela, com a forma que ela vai levar suas análises, pois há quem goste do profissional que só escuta, do profissional que só fala, do profissional que interage com o paciente. Os que usam outras terapias, ou até mesmo auxilio espiritual, ou todos juntos (psiquiatra + psicólogo + auxílio espiritual). Digo auxílio espiritual, não de uma religião específica, mas de várias religiões. A religião, Doutrina, Filosofia de cada um sempre respeitarei, pois se nessas situações, trazem ajuda e o conforto necessário para dar esse suporte, já vale muito.
             
Após esse “breve” relato, vamos a algumas dicas de extrema importância:

Primeiro aos cônjuges:

- ENTENDA!  O problema não é você, é a doença!!!! Então, se ama, fica junto principalmente nos piores momentos da vida. Esse, com certeza é um deles, e de especial atenção.
- Pergunte tudo ao psiquiatra, tire todas as dúvidas. Alguns remédios PODEM reduzir a libido sexual quase a ZERO, ou seja, a culpa não é sua nem da pessoa que está ao seu lado!!! Tenha muita paciência.
- Se notar uma mínima diferença nas atitudes (claro homens, TPM é normal, risos) ligue imediatamente ao médico para pedir orientações, e se possível levar a algum lugar que tenha emergência psiquiátrica (pelo menos no início)
- Tenha confiança no seu psiquiatra, ele será seu braço direito para o resto das suas vidas. Na  menor desconfiança, mude para outro. 
- Verifique no início da terapia, se estão sendo administrados todos os remédios de forma correta, é normal a recaída, é normal o esquecimento, e é aonde acontece o abandono do tratamento, pois alguns dos remédios ficam um bom tempo no organismo, então cria-se a falsa impressão de que a pessoa está curada. O QUE NÃO É VERDADE!!!! Isso quem vai dizer é o psiquiatra, pois podem ser reduzidos sim, e em alguns casos, os remédios quase todos, mas isso quem vai decidir É O PROFISSIONAL!!!!!
- Tenha sempre todos os números do médico, e principalmente, tenha sempre um remédio SOS na sua carteira. É normal o Bipolar se sabotar, dizer que esqueceu, ou que tomou mas não tomar. É normal no começo a pessoa achar que não precisa, então tenha sempre um remédio SOS.
 - NUNCA tente enfrentar uma pessoa no auge da crise, isso pode ser fatal, em todos os sentidos. Na hora, concorde com tudo e abrace. Todas as vezes que tentei, tive sucesso. 
- Quando tentar (o doente) entrar em alguma discussão, que você sabe que não vai dar certo, diz que concorda, e imediatamente, mude de assunto para qualquer outro. Seja qual for o assunto, irá desfocar a atenção principal dele e ele começa a entrar no seu assunto. Então, você sabendo qual assunto mais tira atenção, tenha sempre alguma carta na manga. Com a minha, todos os dias eu passava na banca de jornal e via as notícias de fofoca de novela. Quando ela ia entrar em surto, eu tocava num assunto que eu tinha lido na revista e era infalível!!!!! Na hora ela mudava, falava da novela, mesmo ainda em tom nervoso, mas ia se acalmando. Amo as novelas, risos!!!!!

Ao “doente”:

- Não se culpe, isso é uma doença como qualquer outra.
- Sim, as pessoas vão ter preconceito no trabalho e na sua vida. Claro que existem exceções, mas na maioria das vezes te olharão como se você fosse um alienígena, até o primeiro falar, que conhece gente assim, ou que tem parente assim, aí você começa a descobrir que tem muito mais gente que você imaginava com esse mesmo problema (Opa, já passou de doença para problema, o que já começa a se tornar uma coisa suportável para sua vida). Depois que passar a conviver com ela, vai começar inclusive a debochar disso, e vai começar um tal de “até você é doido que nem eu???? “ kkkkk
- Muitas vezes é diagnosticada tarde, pois precisa perder alguma pessoa importante na sua vida, ou um emprego, ou sofrer algum trauma, para que se acentue o problema, mas depois você começa a descobrir que na infância já existiam traços, na adolescência também, na fase adulta já começava a se acentuar, e depois vem o estopim.
- Tenha sempre alguém que saiba do seu problema, seja no trabalho, na família, que tenha os telefones do seu médico, psicólogo, parentes, para ligar numa emergência. Isso pode salvar sua vida.
- No início, peça ao seu médico, um remédio de SOS e tenha na sua bolsa, carteira, ou com as pessoas mais próximas, para te socorrer. Mesmo que sejam remédios para te deixar dopado temporariamente, EXCLUSIVAMENTE nos casos de emergência.
- Sim, recaídas vão existir, então para isso, deixar prevenidas essas pessoas da sua confiança, e informa-las os números do médico.


Observação 1:

Todos os relatos aqui, são de um marido, que ao longo desse tempo foi aprendendo e pesquisando, LEIGAMENTE sobre o tema. 
Não sou psiquiatra, não sou médico, nem psicólogo. Então, nas doenças ou nas relações, podem variar de pessoa para pessoa, procure antes de mais nada, conhecer bem a sua parceira e conversar com o médico sobre o assunto. E caso ela esteja em uma psicóloga, marque uma consulta, não para saber o que se passa dentro do consultório, pois isso é SIGILO profissional, mas para ela, já conhecendo melhor do que você (e isso é certo) sobre a sua esposa, poderá te dar umas dicas.

NÃO TOME MEDICAMENTOS SEM A SOLICITAÇÃO DO SEU MÉDICO, ISSO É DE EXTREMA IMPORTÂNCIA.

Observação 2:

Caso tenha alguma dúvida, sugestão, ou informação, favor entrar em contato. responderei o mais breve possível, e posteriormente, colocarei a informação aqui com os devidos créditos.